sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Lojistas e feirantes contra concentração de supermercados

http://jn.sapo.pt/2006/09/29/porto/lojistas_e_feirantes_contra_concentr.html


António Silva lembra que os pequenos comerciantes não podem adormecer. Se o fizerem, desaparecem

Carla Sofia Luz

"Temos supermercados a mais para população a menos". O desabafo é de Alberto Silva, um dos comerciantes mais antigos do centro de Valongo. Proprietário do talho Flor da Ponte desde 1959, não esconde o desalento pela perda de receitas com a abertura de vários supermercados na cidade nos últimos anos. Quebras que são registadas, também, por outros comerciantes e pela Associação de Feirantes do Distrito do Porto. Na véspera da abertura da sétima superfície comercial no centro de Valongo, a associação protesta contra o "exagero de oferta" e lembra os elevados prejuízos dos feirantes.

"É um exagero de oferta de equipamentos comerciais. Não sei se há algum critério no licenciamento, porque não estão a levar em linha de conta os outros supermercados já existentes. Vão acabar por absorver os clientes do comércio tradicional e da própria feira de Valongo. Será o sétimo equipamento aberto todos os dias e com horário alargado. Irá aniquilar o comércio da feira", lamenta Fernando Sá, presidente da Associação de Feirantes do Distrito do Porto, assinalando que, na feira semanal que se realiza aos sábados, em Valongo, há cada vez menos comerciantes.

"Regista uma desistência da ordem dos 40%", garante.

Tradição pode acabar

O presidente da Câmara Municipal de Valongo, Fernando Melo, compreende a insatisfação dos comerciantes. No entanto, assegura que o Município está a cumprir as regras da livre concorrência ao autorizar as unidades.

"Existem regras nacionais e internacionais da livre concorrência. A Câmara de Valongo, com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional e a Direcção-Geral de Economia, aprovaram a localização das unidades, de acordo com essas regras. As pessoas não ficam satisfeitas e eu compreendo, mas terão de adaptar-se aos novos conceitos e à evolução que o Mundo sofreu. As unidades não podem ser proibidas", argumenta o autarca. Fernando Melo destaca os benefícios da livre concorrência "Quem oferecer os melhores serviços é que sobrevive. Quem beneficia é o consumidor".

Para os comerciantes e feirantes de Valongo, o problema reside na concentração de superfícies comerciais numa área geográfica reduzida. "Num meio tão pequeno, são supermercados a mais. Nós, pequeninos, precisamos de manter a qualidade dos produtos e nunca adormecer, caso contrário acabam com o comércio tradicional", sentencia António Silva, que, há 31 anos, vende produtos tradicionais e de mercearia n'O Cafezeiro, no coração da cidade. Para o lojista, a simpatia e a qualidade ainda são trunfos fundamentais para a fidelização de clientes.

Contudo, denuncia o receio de sobrevivência ao olhar para o futuro, porque a concentração de supermercados também mexeu com as contas da sua loja. "O meu medo é que os clientes antigos estão a acabar e esta juventude já não liga a tudo isto. Por exemplo, nós vendemos café ao quilo. Essa tradição pode acabar. Antigamente, vendia 800 quilos de café por semana. Agora, são 120 quilos", conta.

Fernando Sá não afasta a hipótese de lançar um desafio aos feirantes e comerciantes para, em sinal de protesto, se concentrarem à porta do supermercado Modelo no dia da abertura.

sábado, 2 de setembro de 2006

Grande Porto tem metade do desemprego do Norte (o caso de Valongo)

http://jn.sapo.pt/2006/09/02/porto/grande_porto_metade_desemprego_norte.html

Fernando Timóteo

Desemprego com números preocupantes na Área Metropolitana

Hugo Silva

Os 14 municípios da Grande Área Metropolitana do Porto (GAMP) concentram cerca de metade (100 059) do total de de-sempregados da Região Norte do país (203 615). De acordo com os mais recentes dados do Instituto Português de Formação Profissional (IEFP), referentes ao final de Junho passado, Vila Nova de Gaia, o concelho mais populoso da GAMP também é aquele que apresenta maior número de desempregados 22 814. Porto, com 13 971, e Gondomar, com 10 813 completam o trio de municípios no topo de lista.

Por sua vez, Arouca (638), S. João da Madeira (1081) e Espinho (2442) são os concelhos com menor número de pessoas à procura de emprego, sendo que também são dos que apresentam menor índice de população residente.

Os dados disponibilizados pelo IEFP indicam, ainda, que há 8953 desempregados em Matosinhos, 7680 em Santa Maria da Feira, 7399 na Maia, 6934 em Santo Tirso, 5940 em Valongo, 4787 em Vila do Conde, 3353 na Póvoa de Varzim e 3254 na Trofa. No conjunto dos 14 concelhos verifica-se que a maioria das pessoas sem emprego são mulheres 56 745. O número de homens à procura de trabalho fica-se pelos 43 314.

Caso de Valongo

Ontem, o BE alertou para o caso específico de Valongo, suja subida da taxa de desemprego é assinalável. De acordo com um comunicado enviado à Lusa, a estrutura concelhia daquele partido alerta para o facto do valor percentual do desemprego, em Valongo, ultrapassar em 5,15% a média nacional. Refere o BE que a taxa valonguense ascende aos 13,15%, enquanto a média do território nacional se fica pelos 8%.

Segundo o mesmo documento, o Centro de Emprego de Valongo registou 575 novos casos, enquanto as ofertas de emprego foram apenas 93 e as colocações concretizadas 66. No texto, divulgado a propósito da Marcha pelo Emprego - iniciativa do BE que também passará por Valongo, explicita-se que o tecido empresarial do concelho é dominado por microempresas "com imensas limitações de gestão e tecnologias" e que as próprias multinacionais "revelam total vulnerabilidade aos processos de deslocalizações".

"Obras de fachada"

O BE também responsabiliza a Câmara Municipal de Valongo, liderada pelo PSD, pela actual situação revelada num diagnóstico social coordenado pela própria autarquia.

"Gastou-se dinheiro que havia e não havia em obras de fachada e não se apetrecharam as zonas industriais com as infra-estruturas necessárias. Criaram-se lugares para assessorias no poder, mas não se pensou em planos de apoio a desempregados e criação de apoio público para a população", sentenciou, ainda, o BE, no texto divulgado pela Lusa.