http://jn.sapo.pt/2004/10/09/grande_porto/parcometros_polemicos_ruas_com_morad.html
Pedro Correia |
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Na Rua Avelino da Assunção, a Câmara delimitou o estacionamento mesmo junto à passadeira |
Isabel Forte
José Moreira carrega o sobrolho enquanto observa, meio desatinado, as marcações feitas pela Câmara de Valongo na estrada de paralelo, mesmo em frente à sua moradia, em Ermesinde. "Como vamos fazer quando colocarem aqui os parcómetros?", questiona, aborrecido. "Andar o dia todo a colocar moedas para podermos deixar o carro em frente a casa?". "Não é normal", responde, de imediato, Myza Mesquita, a vizinha: "Nem sequer temos garagem, o carro tem mesmo de ficar cá fora".
Dentro de 15 dias, os parcómetros colocados na Rua Avelino Assunção e S. Lourenço, artérias essencialmente habitacionais de Ermesinde, começam a funcionar. E as taxas terão de ser pagas, garante, ao JN, José Luís Pinto, vereador, respectivamente, dos Transportes, Sinalização, Trânsito, Ambiente, Cultura, Turismo e Habitação. "Essas duas ruas são o limite externo da zona de parcómetros, instalados na zona central de Ermesinde", diz. "É justo tê-los lá colocado, porque se trata de uma área de serviços, com estacionamento caótico. Considerámos que o trânsito naquele local deveria ser regularizado".
Justo para a autarquia, mas injusto para os moradores, que já pensam em abrir processos contra a Câmara de Valongo. "Vivemos cá há 29 anos. Acha justo termos de pagar, diariamente, para podermos ter o carro à porta de casa?", pergunta Myzia. "É muito mau", continua José Moreira, residente há 40 anos no local. "Há vários moradores que não têm garagem, outros possuem mais do que um carro, o que é que fazemos? Ainda perguntei se podia, ao menos, comprar um lugar de estacionamento, para não estar a pagar todos os dias. Sabe o que me disseram?", exclama: "Se a rua for de classe 1, com muito movimento, pago 1630 euros por ano, se for classe 2, são 733 euros, mais 139 para virem cá marcar o lugar".
Também José Francisco, do "Restaurante Sino", está revoltado com a "última inovação" da Câmara: "Somos três sócios, trabalhamos todos aqui. Ao fim do dia, o parcómetro leva-nos o ganho que fazemos na casa". Já sem "falar nos clientes que certamente vão fugir".
"Terrível", comenta António Queirós, do "Talho da Igreja": "Os meus clientes vão parar de cá vir porque não há sítio para estacionar, a não ser se pagarem". Mais: "Não acautelaram sítio para cargas e descargas. Vamos ter de deixar o camião no meio da rua, e aqui em frente marcaram dois lugares de estacionamento mesmo junto da passadeira para peões".
De facto, o tracejado não engana. Está em cima da passadeira, o que é ilegal e dá direito a multa. O vereador também concorda e adianta: "Isso é ilegal de facto. Admito que esteja mal, vamos corrigir...mas a passadeira pode desaparecer dali...".
Um cartão para poder estacionar
O Regulamento Geral de Estacionamento e Parqueamento elaborado pela Câmara de Valongo refere que os moradores podem ter acesso a um cartão de residente que lhes possibilita, gratuitamente, deixar o carro em qualquer zona de estacionamento do concelho. Mas só em horas específicas, entre as 8.30 e as 9 horas, entre as 12.30 e as 14 horas e entre as 19 e as 20 horas, e mediante o pagamento de uma taxa de cinco euros, com validade de três anos. Ou seja, após o horário estipulado, se o residente optar por deixar o carro estacionado no parqueamento, terá de pagar a taxa previamente afixada.
De qualquer forma, adianta-se, cada lar só pode usufruir de apenas um cartão que, por conseguinte, só dará para um único carro. Pelo que se existir mais do que um veículo numa casa, os moradores terão de encontrar, pelos seus meios, uma solução. Já agora, para ter acesso a este cartão pago, cada morador deve munir-se de uma série de documentação: carta de condução, cartão de eleitor ou atestado de residência, comprovação de domicilio fiscal e titulo de registo de propriedade do veículo.
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